Uma nova ferramenta de inteligência artificial, criada pela startup americana 2Wai, viralizou ao alcançar mais de 4,1 milhões de visualizações, reacendendo o debate sobre a tecnologia e o luto. O recurso possibilita a recriação digital de pessoas falecidas por meio de vídeos, vozes e conversas simuladas. A inovação ganhou destaque após um vídeo mostrar avatares interagindo com familiares vivos em situações que transcendem a morte, levando especialistas a refletirem sobre os impactos emocionais e éticos dessa prática.
Os psicólogos expressam preocupações em relação aos riscos emocionais associados a essa tecnologia. Segundo a psicóloga Andreza Ildefonso, a utilização do recurso pode dificultar o processo de aceitação da perda, uma vez que o luto envolve fases dolorosas necessárias para a integração emocional da ausência. A interação com uma versão digital da pessoa falecida pode criar uma interrupção no fluxo natural do luto, afastando o indivíduo da realidade.
Além disso, Andreza alerta para o alto risco de dependência emocional que pode se desenvolver a partir do uso contínuo dos avatares digitais. Ao manter conversas com uma representação virtual do falecido, a pessoa pode sentir que somente assim consegue lidar com a dor, resultando em um bloqueio emocional. A psicóloga ressalta que o recurso deveria ser utilizado com cautela e acompanhamento profissional, nunca como substituto do vínculo significativo que foi perdido.
Do ponto de vista jurídico, o advogado Pedro Amorim de Souza destaca que apenas a própria pessoa, em vida, pode autorizar sua recriação digital. Instrumentos como testamentos podem ser utilizados para definir o consentimento. A família, por outro lado, não possui direitos sobre a imagem da pessoa falecida, o que levanta questões legais relevantes sobre consentimento e representação digital.
Amorim enfatiza que qualquer recriação digital deve respeitar a memória da pessoa, e qualquer distorção da imagem da pessoa em vida pode gerar responsabilização. A legislação atual busca garantir proteção à memória e à história dos indivíduos, levantando a necessidade de um debate ético à medida que a tecnologia avança.
Embora a nova IA possa oferecer uma sensação temporária de alívio para quem enfrenta a perda, o consenso entre especialistas é que é necessário prudência no uso dessa ferramenta. Interagir com avatares digitais de falecidos é um tema complexo e, segundo os profissionais, deve ser abordado com a devida reflexão sobre as consequências emocionais que podem surgir dessa prática.

