Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado em outubro de 2025, estima que os países desenvolvidos devem cerca de US$ 90,4 trilhões ao planeta devido ao excesso de poluição. A pesquisa, liderada pelo economista Rodrigo Fracalossi, quantifica esta dívida climática utilizando o custo social do carbono (SCC), que considera prejuízos econômicos e sociais relacionados às emissões de dióxido de carbono (CO₂).
O SCC adotado na análise foi fixado em US$ 417 por tonelada de CO₂, uma média calculada a partir de diversos estudos globais. O levantamento parte do princípio de um “orçamento global de carbono” de aproximadamente 2,7 trilhões de toneladas para limitar o aquecimento global a 1,5°C, conforme o estabelecido no Acordo de Paris. A partir de 1990, data da convenção que reconheceu responsabilidades diferenciadas, foram calculadas as emissões além das cotas alocadas, resultando ausentes dívidas significativas para as economias desenvolvidas.
O Brasil, com uma dívida climática estimada em US$ 8,7 trilhões, apresenta um excedente de emissões em grande parte atribuído ao desmatamento e mudanças no uso da terra. O estudo ressalta a possibilidade de que essa dívida seja compensada por meio de iniciativas de remoção de carbono, como reflorestamento. Assim, as ações de preservação e recuperação ambiental podem servir como mitigação das dívidas acumuladas pelos países ricos.
Entre os maiores devedores, os Estados Unidos lideram, devendo cerca de US$ 46,6 trilhões por ultrapassarem em 326% seu orçamento de carbono desde 1990. Japão, Canadá e países da União Europeia também figuram na lista de nações com grandes débitos climáticos. O modelo do Ipea observa que a China, apesar de ser a maior emissora atualmente, não apresenta dívida climática no cálculo devido a suas emissões per capita relativamente recentes.
O estudo sugere que os recursos provenientes dessa dívida, se reparados gradualmente, poderiam financiar projetos de adaptação e mitigação na infraestrutura brasileira, privilegiando a implementação de energias renováveis e reflorestamento na Amazônia. Propostas discutidas na COP29 indicam uma meta de financiamento climático de US$ 300 bilhões anuais até 2035, o que poderia significar um significativo aporte para o Brasil, considerando sua importância ecológica e vulnerabilidade às mudanças climáticas.
Por meio de uma abordagem de equidade e responsabilização histórica, o Ipea fortalece a necessidade de ação coletiva frente à emergência climática. A pesquisa destaca que a justiça social e ambiental estão interligadas e que o reconhecimento das dívidas climáticas pode representar um passo importante rumo a um futuro sustentável e mais justo.

