A 30ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP30) iniciou suas atividades nesta segunda-feira em Belém, no Pará, consolidando a Amazônia como epicentro global das discussões ambientais. Sob a presidência do Brasil, a conferência reúne delegados de mais de 190 países, em um ambiente que reflete tanto avanços significativos quanto lacunas persistentes nas ações climáticas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu início aos trabalhos, enfatizando a necessidade de uma “transição justa” e comemorando a redução de 50% no desmatamento amazônico desde seu retorno ao poder, preservando cerca de 790 mil hectares. Lula destacou que “é mais barato salvar o planeta do que financiar guerras”, apontando a contradição entre investimentos em conflitos armados e as necessidades de nações vulneráveis para adaptação às mudanças climáticas.
A voz dos povos indígenas se destacou no evento, com representantes de várias etnias que viajaram até 3 mil quilômetros para reivindicar a homologação de seus territórios e o reconhecimento de seus saberes. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, apoiou essas demandas, criticando o negacionismo climático que ameaça a humanidade.
Iniciativas concretas, como o programa “Amazônia Viva” do Banco Mundial e acordos de bancos multilaterais para investimentos em descarbonização, foram apresentadas como possibilidades de cooperação. Discussões sobre migração climática, mediadas por organizações como a OIM e o ACNUR, trouxeram à tona histórias de refugiados ambientais, humanizando o debate e apontando novas oportunidades para nações como a Nigéria.
No entanto, a ausência de líderes de nações importantes, como os Estados Unidos, China e Rússia, cria um panorama preocupante, marcando o menor comparecimento desde 2019 e refletindo um isolamento diplomático potencializado pela vitória de Trump, que pretende retirar os EUA do Acordo de Paris. Essa lacuna pode dar espaço para influências de outras potências, como a China, em tecnologias verdes, mas também levanta questionamentos sobre a dependência dessas alternativas.
Embora haja um foco nas metas nacionais de redução de emissões, os planos atuais são considerados insuficientes, prevendo apenas cortes de 10% até 2035, muito aquém dos 60% necessários para limitar o aquecimento global a 1,5°C. Críticos alertam sobre a presença de indústrias de combustíveis fósseis nas negociações, acusando o evento de se tornar um “teatro climático” com promessas vazias.
Enquanto a COP30 se desenrola, o financiamento climático permanece incerto, com promessas de US$ 100 bilhões anuais ainda não cumpridas. Novas discussões sobre um trilhão de dólares para adaptação surgem sem garantias de implementação. A conferência também omite aspectos como os impactos de conflitos armados em questões de sustentabilidade e dignidade social em diferentes regiões, criando zonas de exclusão e devastação.
Após o primeiro dia, a COP30 se apresenta em um equilíbrio frágil, onde a liderança do Brasil e o foco em adaptação convivem com a falta de ações concretas e a ausência de lideranças essenciais, além de uma hipocrisia que ignora questões sociais e econômicas fundamentais para a verdadeira preservação ambiental.

