No Ceará, facções criminosas têm estabelecido impérios empresariais paralelos, diversificando suas atividades além do tráfico de drogas. As organizações, como o Comando Vermelho e os Guardiões do Estado, atuam em várias frentes, incluindo serviços de internet, apostas, vendendo produtos falsificados e cobrando taxas a negócios locais, utilizando a violência para garantir seu domínio territorial e ampliar seus lucros.
Investigações realizadas pelo G1 revelam que, em 2025, criminosos tentaram controlar a venda de água de coco na Avenida Beira-Mar, uma das áreas mais turísticas de Fortaleza, obrigando ambulantes a adquirir produtos de depósitos ligados à facção sob ameaça de morte. Essa estratégia de diversificação se mostra crucial para aumentar as receitas e diminuir a dependência de atividades ilegais.
O professor Fillipe Azevedo Rodrigues, da UFRN, explica que as facções seguem a lógica de mercado, buscando maximizar lucros e reduzir riscos, similar ao que ocorre com milícias no Rio de Janeiro. O Comando Vermelho, por exemplo, tem imposto seu monopólio ao atacar provedores de internet na região metropolitana, resultando em ameaças e destruição de infraestrutura.
A facção cearense, os Guardiões do Estado, tentou abrir uma provedora de internet, mas não avançou. Em uma tentativa de se unir a outras facções, a GDE se uniu ao Terceiro Comando Puro, fortalecendo suas operações de tráfico e exploração de jogos, aumentando ainda mais a pressão sobre comerciantes locais.
A estrutura interna das facções é complexa, com diversos membros implicados em uma rede de arrecadação e punições severas para aqueles que não cumprirem suas obrigações. Casos de extorsão e homicídios persistem, como evidenciado por um caso recente em Fortaleza, onde um comerciante foi assassinado por não pagar uma cobrança exorbitante.
Os especialistas alertam que essa diversificação das atividades criminosas está criando uma sociedade paralela que impõe suas próprias regras e monopoliza serviços. O avanço do crime organizado no Ceará vai além da simples atividade nas ruas, perigosamente integrando-se em negócios legítimos e serviços públicos, uma situação que demanda uma resposta mais abrangente do que operações policiais convencionais.

