A Copa do Mundo de 2026, que será sediada por Estados Unidos, México e Canadá, já acende um alerta importante: as altas temperaturas previstas para o período do torneio. Este cenário climático representa um desafio enorme para a organização e, principalmente, um risco considerável para a saúde de jogadores e também dos milhões de torcedores esperados.
A preocupação é tanta que estudos especializados já apontam para um futuro complicado. O “International Journal of Biometeorology”, por exemplo, levanta “sérias preocupações com a saúde de jogadores e árbitros” devido ao calor extremo. O levantamento identifica seis cidades-sede como de “alto risco”: Monterrey, no México, e as americanas Miami, Kansas City, Boston, Nova York e Filadélfia.
Um relatório chamado “Pitches in Peril” (Campos em Risco), da associação Football for Future, detalha ainda mais. Ele menciona que, em 2025, essas cidades registraram temperaturas acima de 35°C na escala WBGT (Bulbo Úmido de Globo) por pelo menos um dia. Essa medição não leva em conta apenas a temperatura, mas também a umidade, representando o “limite da adaptação humana ao calor”.
FIFA Age Para Mitigar Riscos
A FIFA, entidade máxima do futebol, já sentiu o impacto do calor. Durante a Copa do Mundo de Clubes, realizada entre junho e julho de 2025 nos Estados Unidos, as condições climáticas foram extremas e geraram muitas críticas de atletas e técnicos. Aprendendo com a experiência, a FIFA decidiu implementar pausas para hidratação em todas as partidas da Copa do Mundo de seleções, aos 22 e 67 minutos do jogo, independente do clima. Além disso, a programação dos jogos buscou priorizar partidas ao meio-dia em estádios com ar-condicionado, como Dallas, Houston e Atlanta, enquanto os jogos em regiões de maior risco de calor extremo serão à noite.
“Há um esforço claro para programar os horários dos jogos levando em consideração a saúde e o desempenho dos jogadores”, disse um porta-voz do sindicato de jogadores FIFPro, que preferiu não se identificar. Segundo ele, essa seria “uma consequência direta das lições aprendidas na Copa do Mundo de Clubes”.
No entanto, o sindicato FIFPro ainda alerta para a existência de “partidas de alto risco” e recomenda que os jogos sejam adiados caso as temperaturas ultrapassem 28 graus WBGT.
Risco Para Torcedores é Subestimado
Não são apenas os jogadores que correm perigo. Christopher Fuhrmann, vice-diretor da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), enfatiza que o risco para os torcedores, seja nos estádios ou nas ‘fan-zones’, tem sido “subestimado”.
Fuhrmann explica que os fãs geram calor “com seu entusiasmo” e, diferentemente dos atletas que estão em excelente forma física, podem ter outras condições de saúde que os tornam mais vulneráveis a insolações, que podem ser fatais. Dentro dos estádios, a situação pode ser ainda pior, já que essas estruturas de concreto, asfalto ou metal absorvem e irradiam mais calor. O especialista também aponta problemas potenciais com a “circulação de ar”, a falta de “áreas de sombra” e a “hidratação” dos torcedores, que muitas vezes consomem bebidas alcoólicas.
Até o momento, a FIFA não informou às empresas que administram os estádios se os torcedores poderão levar suas próprias garrafas de água reutilizáveis ou se terão que comprar água, o que é um ponto crítico para a prevenção.
Prevenção e Preparação Local
Apesar de o sul da Califórnia não ser a região de maior risco, o SoFi Stadium, em Inglewood, no condado de Los Angeles, já mostra um plano de contingência. Oito jogos do Mundial acontecerão lá, e o estádio está preparado com cerca de quinze ventiladores gigantes, com vaporizador, que serão distribuídos caso a temperatura ultrapasse 26,7°C. O teto do estádio, a 45 metros do campo, já oferece sombra, mas o local não é climatizado.
“Com 70 mil pessoas no estádio, todas vivenciando emoções intensas, queremos estar preparados para reagir em caso de calor extremo”, afirmou Otto Benedict, vice-presidente de operações da empresa que administra o estádio.
Benjamin Schott, meteorologista do Serviço Nacional de Meteorologia (NWS) que presta consultoria à FIFA, destaca que a “prevenção” é fundamental, especialmente para os espectadores, muitos deles estrangeiros e não acostumados com o clima local. O NWS terá um representante em cada cidade-sede para monitorar as previsões. A decisão final sobre a realização das partidas, em caso de condições extremas, caberá à FIFA e aos governos locais.
“Estamos trabalhando com as diversas equipes de gestão de desastres para garantir a segurança de todos e nos prepararmos para qualquer eventualidade que a mãe natureza nos reserve”, concluiu Schott, lembrando que recordes de temperatura são batidos anualmente no país.

