A nova era industrial de Camaçari, na Bahia, se inicia com a chegada da BYD, substituindo a Ford, que operou na cidade por mais de duas décadas. A montadora americana foi implantada no início dos anos 2000 com um modelo de condomínio industrial, focado em produção modular e eficiência logística. Em contraste, a chegada da BYD, que atua na produção de veículos elétricos, reflete uma evolução significativa na tecnologia e na organização produtiva.
Com a transição do motor a combustão para a propulsão elétrica, a estrutura da cadeia automotiva mudou radicalmente. A nova configuração valoriza insumos como eletrônica, baterias e semicondutores, alterando o papel dos fornecedores e exigindo investimentos elevados em pesquisa e desenvolvimento. Enquanto a Ford priorizava a proximidade física dos fornecedores para otimizar a entrega de componentes, a BYD adota uma abordagem que integra verticalmente componentes críticos, embora ainda importe partes semidesmontadas.
A verticalização da BYD marca uma mudança nos objetivos e meios de produção, com ênfase no controle tecnológico e gerenciamento de riscos dentro de uma cadeia de valor global. Essa nova dinâmica pode impulsionar o desenvolvimento de competências locais avançadas, mas também gera desafios para a indústria regional, uma vez que a centralização do conteúdo tecnológico e de alto valor agregado pode limitar as oportunidades para fornecedores locais.
As políticas públicas terão um papel crucial na adaptação a essa nova realidade, demandando iniciativas que visem à qualificação profissional e ao fortalecimento de fornecedores que possam se integrar nas áreas de eletrônica e software. Assim, a experiência de Camaçari representa não apenas a troca da Ford pela BYD, mas uma transição para um novo paradigma produtivo que pode ser decisivo para a reindustrialização da economia brasileira.